FRATURA DE ESTRESSE NO ESPORTE

FRATURA DE ESTRESSE NO ESPORTE
por Daniel Coriolano (MÉDICO CRM/CE 13090)

A fratura de estresse é proveniente de trauma indireto. Neste caso a energia do traumatismo não incide diretamente sobre a estrutura onde ocorrem as microfissuras óssea. Quando há fissura do osso, esta caracteriza o tipo de fratura incompleta. Quando há separação total entre as regiões proximal e distal do osso, diz-se que houve uma fratura completa. Também quanto a classificação, as fraturas podem ser ditas simples, quando há separação em apenas duas partes ósseas, ou cominutiva, quando o osso fraturado divide-se em mais de duas partes. 

Como dado epidemiológico, na prática esportiva de corredores, é de conhecimento científico que as fraturas por estresses constituem 10% dos tipos de fraturas e ocorrem na vigência dos treinos e competições. Os indivíduos acometidos por este tipo de lesão no esporte não são exclusivamente atletas de alto rendimento. É cada vez mais fulgente o acometimento de indivíduos da população geral, visto o aumento considerável de praticantes das conhecidas “corridas de rua” por exemplo. 

A magnitude do exercício físico (volume e intensidade) está diretamente relacionado ao evento médico que em tempo é debatido, “fratura por estresse”. Esta patologia tem em seu cerne o acúmulo de choques associados com uma incompetência da musculatura subjacente em suportar os sucessivos impactos de cada treino, sendo assim o limite de sobrecarga do osso é superado, diz portanto que houve uma transposição da “resistência fisio-histológica”. 

A musculatura fadigada tem influência sobre o aparecimento da fratura de estresse ao passo que sua capacidade de absorver o impacto é comprometida. Na sequência, a energia é transmitida com maior intensidade até a estrutura óssea, com sucessivos insultos ao longo de uma temporada de treinos e/ou competições, produzindo as microlesões que conforme já citado, compõe peça chave no diagnóstico da fratura por estresse. 

Considera-se que as lesões ósseas iniciam-se nas trabéculas ósseas, que é a parte mais central do osso, nesta hora quando não tratada, a condição pode evoluir para a fratura completa propriamente dita, momento em que é observada a alteração macroscópica, ou seja, a fratura é então notada em virtude da perda da continuidade do osso, momento em que a região cortical é também danificada. 

As mulheres são especialmente acometidas por esse tipo de lesão no esporte. A “Tríade da Mulher Atleta”, tema já abordado em texto anterior, evidencia que em seu diagnóstico reside os alicerces para que a fratura por estresse ocorra. A lembrar: Desordenamento alimentar; redução da densidade mineral óssea e; amenorreia (parada da menstruação por mais de 90 dias). Fêmur, tíbia, fíbula, ossos dos pés são os mais acometidos por fraturas de estresse. 

A dor que se estende através de algum membro do corpo de maneira recorrente, a fragilidade de alguma estrutura corporal ao exercer algum esforço ou mesmo ao repouso e sem associação com equimoses, áreas arroxeadas/azuladas que induz o diagnóstico de contusão/trauma direto, são indícios de que a fratura por estresse já está estabelecida. 

O diagnóstico deve ser realizado por um médico com competência reconhecida na área do exercício e do esporte. Neste caso, nós podemos lançar mão de exames complementares de imagem. Na radiografia simples espera-se uma dissociação clínico-radiológica, ou seja, o atleta pode referir muita dor com pouca repercussão ao exame complementar ou vice versa, pouca dor com grande evidencia na imagem solicitada pelo médico. Quando requeridas em estágios iniciais da doença, cerca de 80% das fraturas de estresses não são manifestas nas imagens radiográficas, segundo descrito pela Dra. Ana Paula Simões da Silva em seu trabalho de revisão. 

A ressonância nuclear magnética (RNM) e a cintilografia óssea, são mais sensíveis em oferecer para equipe médica informações mais precisas mesmo em estágios iniciais. Para efeito comparativo, 95% dos indivíduos com fratura de estresse podem ser beneficiados com o diagnóstico da fratura por estresse, com auxílio da cintilografia óssea, já nas primeiras 24 horas de aparecimento da lesão. Isto caracteriza a alta sensibilidade do exame, embora sua especificidade é menor que a da radiografia. Mesmo assim o médico lança mão da RNM, pois com este exame complementar o profissional pode estudar como melhor detalhamento os tecidos moles próximos ao osso fraturado, observar se ocorre infecção local ou mesmo a presença de tumores, forte diagnósticos diferenciais.

"É importante salientar que a avaliação da história clínica e a queixa de dor, apesar de todo o avanço da tecnologia médica, ainda permanece como sendo a melhor ferramenta para a elucidação diagnóstica de enfermidades" (KEMPFER et al 2004). 

O tratamento é variável de acordo com a gravidade da lesão. Pode ser de resolução primariamente cirúrgica em casos mais graves, quando ocorre a fratura completa do osso. Nestes casos o tempo para reabilitação é de aproximadamente seis meses. 

Quando diagnosticada precocemente, o indivíduo com microlesões que caracterizam a fratura por estresse pode ser manejado de forma conservadora, com repouso, exercícios em ambientes aquáticos que imprimem menor impacto sobre a estrutura acometida. Deste modo objetivando a manutenção das habilidades cardiorrespiratórias e condicionamento físico do esportista. Em um terceiro momento uma atenção maior para o fortalecimento muscular deve ser realizado, assim a musculatura treinada absorverá parte da energia transmitida durante a demanda durante o exercício físico até o retorno pleno ao esporte.



danielcoriolano@gmail.com

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